Nas últimas semanas fui bastante impactada por artigos do mundo inteiro sobre a "Semana de 4 dias" (4-day week).
Para quem ainda não entendeu do que se trata, a hipótese é que a mesma quantidade de trabalho pode ser concluída em um período mais curto e focado — com a vantagem de que os colaboradores se sentem mais revigorados para a próxima semana. Essa hipótese foi baseada em muitas pesquisas feitas sobre saúde e bem-estar nos últimos anos. Ah! Isso tudo sem reduzir os salários, claro.
Muitas empresas que entraram no projeto inglês “The 4-Day Week Global” e outras nos EUA, Nova Zelândia e até no Japão estão contando como andam suas performances até aqui. Alerta de spoiler: elas estão tendo bons resultados, apesar de muitos trade-offs.
No Brasil, foram poucas as empresas que se jogaram na tentativa de trazer mais bem-estar para seus funcionários sem perder a produtividade, por medo ou por falta de conhecimento. Para tentar diminuir essa resistência, resolvi compartilhar o que tenho lido ultimamente.
Aprendizados do modelo de trabalho de 4 dias
1. Há diferentes formatos
Parte das empresas trabalha com a jornada de 8 horas durante 4 dias. Outras experimentam 5 dias com jornada reduzida. Algumas organizações experimentaram dar folga às sextas-feiras. Outras dão aos funcionários a opção de escolher o dia de folga. A variação acontece de acordo com o negócio e a cultura da empresa.
2. Os funcionários experimentaram menos estresse e mais satisfação no trabalho, além de mais igualdade
Entre 60 e 90% das pessoas disseram que seus funcionários ficam doentes com menos frequência, que eles estão menos estressados e mais felizes. Além da oportunidade de passarem mais tempo com a família e dedicar-se a hobbies, muitas mulheres não têm com quem deixar os filhos, logo, o movimento promove um local de trabalho mais igualitário. A experiência vem sendo tão gratificante, que há relatos de pessoas de que só voltariam à trabalhar com a carga horária anterior mediante um aumento de salário.
3. As empresas não tiveram queda na produtividade total — mas não foi fácil
Na verdade foi sentido até um aumento na produtividade. De acordo com a Lei de Parkinson, o trabalho se expande para preencher o tempo disponível. O que ficou claro a partir dos depoimentos das empresas entrevistadas, foi que produzir a mesma quantidade em um período menor exigia foco e algum grau de crueldade. Isso quer dizer que reduzir drasticamente o número de reuniões foi o ponto mais fundamental de todos. Junto a isso, as pessoas tiveram que cortar colegas das reuniões, logo, alguns colaboradores sentiram seu status prejudicado.
4. Desafios do modelo
Um dos desafios de uma semana comprimida foi entregar resultados para o negócio. A queda no atendimento foi um ponto observado em algumas empresas. Clientes reclamaram que não conseguiram acessar os serviços com os escritórios fechados. Tentar uma semana de trabalho de quatro dias talvez exija uma maior equipe, o que pode estar fora do orçamento. Outro ponto identificado foi menos tempo para conversas informais e para construir relacionamento nos times, que pode afetar o prazer e o sentido das pessoas no trabalho.
5. Mudanças na intenção pode ser um tiro no pé
A abordagem adotada por uma das empresas para evitar uma queda drástica dos resultados, foi mudar a linguagem de "dia de folga" para "dia do presente", condicionando-o à produtividade individual. Esse movimento pode quebrar a relação de confiança com os colaboradores, afinal, a intenção do modelo era respeitar o seu direito ao descanso.
6. O modelo exige mudança de mentalidade
Sociedades capitalistas são pautadas na produtividade. Por causa disso, nossa relação com o trabalho é bastante tóxica: acreditamos que precisamos trabalhar muito para sermos bem sucedidos e reconhecidos. Mas este é um pensamento da era industrial. O que importa é a contribuição e os resultados entregues pelos colaboradores, não COMO eles estão trabalhando. É papel da liderança sustentar a crença de que o valor das pessoas não está em quanto elas trabalham.
Como implementar na sua empresa
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